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Jejum intermitente: conheça a dieta em que a regra é não comer
O jejum intermitente exige determinadas ações para que a pessoa deixe de comer em períodos de tempo variáveis, porém controlados.
30 Maio 2018
Jejum intermitente: conheça a dieta em que a regra é não comer

Até bem pouco tempo atrás, ao falar em jejum, a associação direta seria com algo relacionado à prática religiosa. No cristianismo, em períodos como a Páscoa, Semana Santa e Quaresma, há um incentivo para que as pessoas jejuem como ato de penitência. A maior parte dos países do Oriente Médio também pratica o mês de jejum do Ramadã, um dos mais sagrados no calendário muçulmano. Mas, agora, a prática aparece com frequência e não tem nada relacionado a uma decisão espiritual, mas sim de qualidade de vida. 

Geórgia diz que algumas das modalidades exigem que a pessoa fique até 20 horas sem comer. (Foto: Jailson Soares/O Dia)

O jejum intermitente é uma estratégia alimentar usada por pessoas em busca de resultados estéticos e de saúde e, por isso, exige determinadas ações para que a pessoa deixe de comer em períodos de tempo variáveis, porém controlados. Mas passar tanto tempo sem comer, imediatamente, vem à cabeça a confrontação da “regra” que é mais comum ser ensinada dentro dos consultórios de nutricionistas: a reeducação alimentar, na qual as pessoas fazem pequenas refeições a cada três horas.

A nutricionista esportiva, Geórgia Alencar, explica que há benefícios em ambas as estratégias e os resultados a serem alcançados e buscados dependerá de cada organismo. “Em comparação com a reeducação alimentar, quando falamos de emagrecimento, podemos dizer que o resultado do jejum intermitente é o mesmo. Mas a prática do jejum também traz benefícios outros, ele modula os hormônios e pode dar melhoria ao sono, controle do estresse e até uma técnica para tratar a diabetes”, esclarece. 

São indicadas entre 10 e 20 horas de jejum, que pode ser feito diariamente ou em alguns dias da semana. Os períodos em que a alimentação é permitida são chamados de janelas de alimentação. Fora deles, a pessoa deve ingerir líquidos que não possuam calorias, como água (com ou sem gás) e chás e café sem açúcar. Nessa estratégia, como a pessoa não vai se alimentar o tempo todo, é necessário que, quando for se alimentar, escolha uma refeição balanceada e rica em nutrientes (proteínas, gorduras carbos, vitaminas e minerais). Isto porque pouco adiantaria que após passar o dia sem comer, as escolhas vindouras sejam alimentos ultra processados e ricos em calorias. 

Por isso, é importante ter um acompanhamento de um profissional e já ter passado pela reeducação alimentar vai ajudar. “O que eu sempre falo dentro do consultório é que cada organismo reage de uma forma. Muitas vezes, a pessoa quer copiar uma dieta e, talvez, ela não vai ter o resultado daquela outra pessoa porque seu organismo reage diferente. Com o acompanhamento profissional, fazemos tudo sob supervisão e de acordo com as necessidades individuais”, relata Geórgia. 

Como algumas das modalidades exigem que a pessoa fique até 20 horas sem comer, a estratégia não pode ser feita todos os dias. “Fazemos alguns tipos de estratégias como o jejum um dia sim, um dia não ou, no caso do de 20 horas, passar dois dias se alimentando normal e faz o jejum de 20 horas. Assim, o organismo vai respondendo à cada situação”, explica. Desta forma, há uma queima de gordura, pois o organismo vai precisar de energia durante o jejum e usará a gordura já disponível no corpo para isso, ajudando a emagrecer mais.

Jejum intermitente faz corretor perder 31 kg

Foram 20 anos de dietas frustradas até o corretor de imóveis, Osvaldo Sobrinho, perceber que era hora de mudar radicalmente de estratégia. A mudança foi efetiva e permanente. Há quase dois anos, ele adotou o jejum intermitente como forma de reequilibrar a alimentação e, com isso, viu sair dos insatisfeitos 98 quilos para seu atual peso de 67 quilos em quatro meses. Osvaldo explica que a curiosidade e a decisão de fazer diferente foram o que o levaram à estratégia alimentar. 

Osvaldo Sobrinho saiu dos 98 quilos para 67 quilos em quatro meses de dieta restritiva e prática de exercícios. (Foto: Reprodução/Instagram)

“Em outubro de 2016, eu tomei conhecimento do jejum, pesquisei muito porque tinha aquela ideia de que o certo era comer a cada três horas, mas o que acontecia era que eu me forçava a comer pela manhã, por exemplo, porque não tinha fome. Então, em dezembro daquele ano, quando tinha acumulado todo o conhecimento sobre o jejum intermitente, eu comecei a fazer”, relata.

 Osvaldo iniciou a prática alimentar sem a supervisão de um profissional porque, na época, ele não encontrou ninguém que trabalhasse com a estratégia. Fez de forma progressiva: primeiro passando 12 horas sem comer por dez dias, depois, 14 horas, até chegar no que segue hoje, que são 16 horas sem comer. “Janto às 20h e só vou comer no outro dia no almoço”, relata. 

A mudança alimentar também foi acompanhada pela prática de exercícios físicos. Osvaldo fazia musculação e viu que a perda de peso foi efetiva, mas sua vontade de praticar atividade física era outra. “Eu sempre gostei e quis correr, mas por conta do sobrepeso, eu nunca consegui. Então, quando fui perdendo peso, pude colocar essa vontade em prática”, explica. 

De lá para cá, Osvaldo já correu em 17 corridas de rua e se prepara para cumprir uma meia maratona. A mudança de vida também incentiva outras pessoas através da internet. Ele alimenta um instagram, o @projetofitness43, no qual compartilha sua rotina de atividades físicas e alimentar. “Muita gente interage através do Instagram e eu fico feliz por saber que posso influenciar positivamente a vida de outras pessoas, porque muito mais que esteticamente, você ganha em saúde, em disposição. Hoje eu começo o dia correndo às 5h da manhã e me sinto com energia para o dia todo”, finaliza.

(Arte: Danilo Vaz)

Longos períodos de jejum podem causar transtornos

Vanessa Carvalho é estudante e passa muitas horas sem comer, mas não é por opção, e sim pela rotina atribulada entre o trabalho e a Universidade. Ela confessa que, ao longo do dia, essa alimentação desregrada lhe causa cansaço e irritabilidade. “Durante o dia, fico de mau humor e meu rendimento não é o mesmo. Não tenho tempo para me alimentar”, relata. 

Segundo a nutricionista Nandara Marques, estes sinais realmente são reflexo da má alimentação, que também pode desencadear compulsão alimentar. A especialista explica que as refeições intermediárias, aquelas que acontecem entre as refeições principais, são importantes para a manutenção da saúde e do humor.

“Realizar refeições fracionadas, geralmente no intervalo de três horas, diminui o risco de descontrole dos níveis de cortisol e glicose. Por isso, a probabilidade de ter uma compulsão alimentar é bem menor”, pontua Nandara, esclarecendo que o cortisol é um hormônio que serve como um regulador do estresse, imunidade e nível de açúcar no sangue. Com relação ao jejum intermitente, a nutricionista afirma que tudo vai depender da individualidade biológica do paciente. 

“Temos novas estratégias tradicionais como o jejum intermitente, onde as pessoas optam por passar um período de tempo sem se alimentar. Mas para paciente que tem histórico de com - pulsão alimentar, que sejam obesos crônicos, por exemplo, nós recomendamos refeições intermediárias”, comenta. 

A nutricionista ainda cita alternativas de lanches nutritivos que podem ser levados para qualquer lugar dentro da bolsa. “A alimentação intermediária é uma ótima oportunidade que as pessoas têm de agregar valor nutricional à alimentação, com oleaginosas, frutas, no caso iogurtes, castanhas e sementes. Tudo mais saudável, saboroso e prático”, Nandara finaliza. 

Por: Glenda Uchôa e Valéria Noronha

Fonte: Portal do dia